quinta-feira, 11 de março de 2010

Heráclito de Éfeso

Heráclito de Éfeso

        Heráclito era de Éfeso, cidade da mesma faixa costeira de Mileto, cujo apogeu se deu no século VI a.C. Ele é conhecido por duas ideias em particular e que tiveram grandes influências.
        A primeira é a unidade dos opostos. Heráclito mostrou que o caminho de subida e o caminho de descida de uma montanha não são dois caminhos diferentes indo em direções opostas, mas um e o mesmo caminho. O jovem Heráclito e o Heráclito idoso não são dois indivíduos diferentes, mas o mesmo Heráclito. Se seu companheiro de bar diz que sua garrafa de vinho está meio cheio e você diz que está meio vazia, você não o está contradizendo, mas concordando com ele. Tudo (pensava Heráclito) é uma reunião de opostos ou, pelo menos, de tendências opostas.
        Isso significa que a luta e a contradição não devem ser evitadas. De fato, foram elas que se juntaram para formar o mundo. Se eliminássemos a contradição, elimináramos a realidade. Mas isso, por sua vez, significa que a realidade é inerentemente instável. Tudo está em fluxo o tempo todo. E esta é a segunda idéia que ficou para sempre associada a Heráclito: “Tudo flui”.
        Nada neste nosso mundo é permanentemente. Tudo está mudado o tempo todo. As coisas vêm a existir em seus modos diferentes e nunca serão as mesmas em dois momentos seguidos enquanto existirem, até finalmente deixarem de existir de novo. Nós mesmos somos assim. Tudo no universo é assim – talvez o universo mesmo seja assim. O que concebemos como “coisas” não são realmente objetos estáveis, pois estão em perpétua transição. A esse respeito Heráclito comparava-as a uma chama: a chama parece ser um objeto. É uma ideia profunda, mas também desconcertante. Os seres humanos sempre tentaram achar algo em que acreditar, algo confiável que durasse e não se extinguisse. E Heráclito está nos dizendo que não existe nada assim. A mudança é a lei da vida e do universo. Ela manda em tudo. Nunca escaparemos dela.

Fragmentos de Heráclito:
“Tudo se faz por contraste, da luta dos contrários nasce a mais bela harmonia.”
“Não devemos fazer conjecturas apressadas sobre as coisas mais elevadas.”
“Descemos e não descemos para dentro dos mesmos rios; somos e não somos.”
“O fogo se transforma em todas as coisas e todas as coisas se transformam em fogo, assim como se trocam mercadorias por ouro e ouro por mercadorias.”
“Homens que amam a sabedoria precisam ter muitos conhecimentos.”
“Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio. Dispersa-se e se junta novamente, aproxima-se e se distancia.”

Tales de Mileto

Tales de Mileto

        Já vimos que Tales é considerado o primeiro filósofo e que para ele a arché (princípio originador de todas as coisas) seria a água. Tales observou que os campos ficavam fecundos após serem inundados pelo Nilo. Tales então viu que o calor necessita de água, que o morto resseca, que a natureza é úmida, que os germens são úmidos, que os alimentos contêm seiva, e concluiu que o princípio de tudo era a água. É preciso observar que Tales não considerava a arché água como nosso pensamento de água líquida, e sim, na água em todos os seus estados físicos. Tudo, então, seria a alteração dos diferentes graus desta.

"A Filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário determo-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e, enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisálida (estado latente, prestes a se transformar), está contido o pensamento: “Tudo é Um”. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e o mostra como investigador da natureza, mas, em virtude da terceira, Tales se torna o primeiro filósofo grego".

NIETZSCHE, Friedrich. A Filosofia na Idade Trágica dos Gregos.