quarta-feira, 27 de julho de 2011

Nicolau Maquiavel



    Nascido em 1469 em Florença numa Itália ainda dividida em diversas repúblicas autônomas, Maquiavel é um intelectual e político. Morre em 1527, deixando-nos como principal obra “O Príncipe”.

A autonomia da Ação Política

    Nem sempre a política caminhou ou caminha sozinha de maneira autônoma. Durante séculos, se é que isso ainda não ocorre, ela foi permeada pela ética religiosa, pelos interesses de certos grupos e até pela própria moral do governante.
    Com base em suas constatações Maquiavel pretende elaborar teoricamente um regime que se liberte das amarras impostas pela moral cristã, pelos interesses individuais ou pela ética do governante. Só assim, segundo ele, se poderia alcançar na Itália, um governo justo, unificado, independente e sobretudo estável.
    A sistematização política de Maquiavel segue as vias realista e utilitária.
    Através de suas análises cuidadosas, consegue colocar a política em uma categoria autônoma, onde se promove o estudo do tema e o desenvolvimento das técnicas do seu modus operandi.

Sobre as vias realista e utilitária de Maquiavel

“Mas, como minha intenção é escrever algo útil para quem estiver interessado, pareceu-me mais apropriado abordar a verdade efetiva das coisas, e não imaginá-las. Muitos já conceberam repúblicas e monarquias jamais vistas, e de cuja existência real nunca se soube”.
Nicolau Maquiavel

    Portanto, a análise de Maquiavel surge como novidade ao se distanciar do idealismo platônico que, ao tentar elaborar um governo perfeito, acaba por desenvolver utopias.

A obra “O Príncipe”

    Está dividido em 26 capítulos. No início ele apresenta os tipos de principado existentes e expõe as características de cada um deles. A partir daí, defende a necessidade do príncipe de basear suas forças em exércitos próprios, não em mercenários e, após tratar do governo propriamente dito e dos motivos por trás da fraqueza dos Estados italianos, conclui a obra fazendo uma exortação a que um novo príncipe conquiste e liberte a Itália.

O Príncipe

    O Príncipe, na obra maquiaveliana, é o principal cidadão do Estado, entendendo assim príncipe como governante.
    Príncipe, hoje, é todo aquele que detém o poder executivo.
    Príncipe é todo aquele que conquistou, de alguma forma, autoridade legítima sobre outros seres humanos.
    Em linhas gerais, Maquiavel propôs foi a formação de um governante que aliasse duas qualidades, segundo ele, fundamentais para o exercício da política: a virtù e a fortuna.
    Virtú - A virtù corresponderia a capacidade do governante de promover alterações significativas, tanto para o desenvolvimento do bem coletivo quanto para a mudança positiva do curso histórico, independente das retaliações que possivelmente o mesmo iria sofrer.
    Fortuna - Fortuna, por sua vez, designa a qualidade do governante em saber aproveitar oportunidades que lhe são oferecidas, ou seja, tendo a sorte de se deparar com ocasião favorável este deve aproveitá-la.

Política X valores da Igreja Católica

    Ainda na esfera política, um conceito combatido por Maquiavel pioneiramente, que mais tarde será ampliado por outros autores, é a própria sobreposição dos valores espirituais em ralação aos políticos.
    Considerando que se trata de um curto período posterior ao feudalismo, é necessária a visão de que os valores da Igreja Católica no imaginário coletivo são anteriores à autoridade do Estado. Portanto, ao combater essa característica ele se torna um dos precursores do conceito de Estado laico.

“Nada é mais necessário do que a aparência da religiosidade. De modo geral, os homens julgam mais com os olhos do que com o tato: todos podem ver, mas poucos são capazes de sentir. Todos veem nossa aparência, poucos sentem o que realmente somos, e esses poucos não ousarão opor-se à maioria que tenha a majestade do Estado a defendê-la. Na conduta dos homens, especialmente dos príncipes, contra a qual não há recurso, os fins justificam os meios. Portanto, se um príncipe pretende conquistar e manter o poder, os meios que empregue serão sempre tidos como honrosos, e elogiados por todos, pois o vulgo atenta sempre para as aparências e os resultados; o mundo se compõe só de pessoas do vulgo e de umas poucas que, não sendo vulgares, ficam sem oportunidade quando a multidão se reúne em torno do soberano.”
Nicolau Maquiavel

Os Contratualistas: Hobbes, Locke e Rousseau


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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Nicolau Copérnico

“A sabedoria da natureza é tal que não produz nada de supérfluo ou inútil.”
Nicolau Copérnico

Um pouco de História
    Os filósofos do século XV aceitavam o geocentrismo como fora estruturado por Aristóteles e Ptolomeu. Esse sistema cosmológico afirmava (corretamente) que a Terra era esférica, mas também afirmava (erradamente) que a Terra estaria parada no centro do Universo enquanto os corpos celestes orbitavam em círculos concêntricos ao seu redor.

Vida
    Nicolau Copérnico (1473-1543) foi um astrônomo e matemático polaco que desenvolveu a teoria heliocêntrica do Sistema Solar. Foi também cônego da Igreja Católica, governador e administrador, jurista, astrólogo e médico.
    Sua teoria do Heliocentrismo, que colocou o Sol como o centro do Sistema Solar, contrariando a então vigente teoria geocêntrica (que considerava, a Terra como o centro), é tida como uma das mais importantes hipóteses científicas de todos os tempos, tendo constituído o ponto de partida da astronomia moderna.

Astrônomo Copernicus: Conversa com Deus, por Jan Matejko.

Teoria
    A teoria do modelo heliocêntrico, a maior teoria de Copérnico, foi publicada em seu livro, De revolutionibus orbium coelestium ("Da revolução de esferas celestes"), durante o ano de sua morte, 1543. Apesar disso, ele já havia desenvolvido sua teoria algumas décadas antes.
    O livro marcou o começo de uma mudança de um universo geocêntrico, ou antropocêntrico, com a Terra em seu centro. Copérnico acreditava que a Terra era apenas mais um planeta que concluía uma órbita em torno de um sol fixo todo ano e que girava em torno de seu eixo todo dia. Ele chegou a essa correta explicação do conhecimento de outros planetas e explicou a origem dos equinócios corretamente, através da vagarosa mudança da posição do eixo rotacional da Terra. Ele também deu uma clara explicação da causa das estações: O eixo de rotação da terra não é perpendicular ao plano de sua órbita.
    O sistema de Copérnico pode ser resumido em algumas proposições, assim como fez o próprio Copérnico a listá-las em uma síntese de sua obra mestra, que foi encontrada e publicada em 1878.

As principais partes da teoria de Copérnico são:
• Os movimentos dos astros são uniformes, eternos, circulares ou uma composição de vários círculos (epiciclos).
• O centro do universo é perto do Sol.
• Perto do Sol, em ordem, estão Mercúrio, Vênus, Terra, Lua, Marte, Júpiter, Saturno, e as estrelas fixas.
• A Terra tem três movimentos: rotação diária, volta anual, e inclinação anual de seu eixo.
• O movimento retrógrado dos planetas é explicado pelo movimento da Terra.
• A distância da Terra ao Sol é pequena se comparada à distância às estrelas.

    O orgulho humano sofreu um duro golpe com o sistema de Copérnico, e mesmo anos após sua morte, durante o processo de condenação a Galileu em 1616, a Igreja colocou a obra de Copérnico na lista dos escritos proibidos, condição a qual permaneceu até o ano de 1835, ainda que cento e cinqüenta anos antes já tivesse sido reconhecida como verdadeira.
    Pelos dogmas religiosos da época, se Deus havia criado a Terra e o Homem para povoá-la, sendo a criatura imagem do Criador, seríamos portanto superior as demais criaturas. O Universo existia apenas para que o contemplássemos. O Filho de Deus estava no centro do cosmos, no centro de todas as coisas.
    A obra de Copérnico foi o alicerce no qual se apoiaram outros grandes pensadores da humanidade, como Galileu, Kepler, Newton e mais recentemente Albert Einstein.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Filme: O Sétimo Selo

Cena do filme

    A vida tem algum sentido ou significado? Deus, o Diabo, os anjos e os demônios existem? O que há para além desta vida, para além da morte? Questões muito mais do que complexas, muito mais profundas do que a nossa efêmera existência pode almejar. Questões que nos colocam diante do absurdo que é a vida. Poucas pessoas são as que chegam até a profundidade que estas questões proporcionam. Ainda menos numerosas são as obras de arte que nos colocam diante de tais questões. “O Sétimo Selo” de Ingmar Bergman é uma destas escassas obras de arte.
    Nele nós acompanhamos o regresso de um cavaleiro que acaba de retornar das Cruzadas para sua terra natal, e que se depara com a Morte personificada, que deseja levá-lo com ela. Vendo que iria “passar desta para uma melhor”, o cavaleiro decide convidá-la para um jogo de xadrez, a fim de ganhar mais algum tempo vivo. A partir daí, acompanhamos o filme sob dois prismas que terminam por se conjugarem. Pelo lado do cavaleiro, percebemos toda a aflição que alguém pode sentir ao ter suas mais profundas convicções abaladas. Tendo vivenciado as Cruzadas, a peste e tendo agora a Morte à sua espera, o cavaleiro passa a refletir sobre a existência de Deus e o significado da vida. Decide então, dedicar o tempo de vida que ganhou com a partida de xadrez que se desenrola, para tentar fazer ou encontrar algo na vida que seja significativo. Por outro lado, acompanhamos a vida de uma “família” de artistas itinerantes, que vivem sob a opressão da pobreza. Apesar disso, esta família encontra uma felicidade, e por que não, um sentido para a vida, nas coisas simples.
    “O Sétimo Selo” é um filme majestoso por nos colocar diante de algumas das maiores questões da humanidade com uma simplicidade assustadora. É fantástico que por meio de algo tão simplório como um jogo de xadrez nós possamos ver o desenrolar de questões existenciais que estão sempre diante de nós, seres humanos. A obra de Bergman é simplesmente genial. Certamente um dos melhores filmes de todos os tempos, por nos possibilitar examinarmos questões tão vitais por nós mesmos. O filme é filosofia pura! Mas é somente isso que se poderia esperar quando entra em cena a Musa da Filosofia (a Morte). Assistir este filme é altamente recomendável por ele transmitir uma experiência tão forte com a vida. E com a morte.

Henrique Torres


Direção: Ingmar Bergman.
Elenco: Max von Sydow, Gunnar Björnstrand, Nils Poppe, Bibi Andersson, Bengt Ekerot, Gunnel Lindblom, Maud Hansson, Ake Fridell, Inga Gill, Maud Hansson, Inga Landgré, Bertil Anderberg.
Resumo: Após dez anos, um cavaleiro (Max Von Sydow) retorna das Cruzadas e encontra o país devastado pela peste negra. Sua fé em Deus é sensivelmente abalada e enquanto reflete sobre o significado da vida, a Morte (Bengt Ekerot) surge à sua frente querendo levá-lo, pois chegou sua hora. Objetivando ganhar tempo, convida-a para um jogo de xadrez que decidirá se ele parte com a Morte ou não. Tudo depende da sua vitória no jogo e a Morte concorda com o desafio, já que não perde nunca.