sábado, 1 de março de 2025

Questões de Filosofia - Enem 2019

Enem 2019 - Questão 46 (caderno amarelo)

A hospitalidade pura consiste em acolher aquele que chega antes de lhe impor condições, antes de saber e indagar o que quer que seja, ainda que seja um nome ou um “documento” de identidade. Mas ela também supõe que se dirija a ele, de maneira singular, chamando-o portanto e reconhecendo-lhe um nome próprio: “Como você se chama?” A hospitalidade consiste em fazer tudo para se dirigir ao outro, em lhe conceder, até mesmo perguntar seu nome, evitando que essa pergunta se torne uma “condição”, um inquérito policial, um fichamento ou um simples controle das fronteiras. Uma arte e uma poética, mas também toda uma política dependem disso, toda uma ética se decide aí. 

DERRIDA, J. Papel-máquina. São Paulo: Estação Liberdade, 2004 (adaptado). 


Associado ao contexto migratório contemporâneo, o conceito de hospitalidade proposto pelo autor impõe a necessidade de


A) anulação da diferença.

B) cristalização da biografia.

C) incorporação da alteridade.

D) supressão da comunicação.

E) verificação da proveniência.



Enem 2019 - Questão 47 (caderno amarelo)

Em sentido geral e fundamental, Direito é a técnica da coexistência humana, isto é, a técnica voltada a tornar possível a coexistência dos homens. Como técnica, o Direito se concretiza em um conjunto de regras (que, nesse caso, são leis ou normas); e tais regras têm por objeto o comportamento intersubjetivo, isto é, o comportamento recíproco dos homens entre si.

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.


O sentido geral e fundamental do Direito, conforme foi destacado, refere-se à


A) aplicação de códigos legais.

B) regulação do convívio social.

C) legitimação de decisões políticas.

D) mediação de conflitos econômicos.

E) representação da autoridade constituída.



Enem 2019 - Questão 52 (caderno amarelo)

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela Assembleia Geral da ONU na Resolução 217-A, de 10 de dezembro de 1948, foi um acontecimento histórico de grande relevância. Ao afirmar, pela primeira vez em escala planetária, o papel dos direitos humanos na convivência coletiva, pode ser considerada um evento inaugural de uma nova concepção de vida internacional.

 LAFER, C. Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). In: MAGNOLI, D. (Org.). História da paz. São Paulo: Contexto, 2008. 


A declaração citada no texto introduziu uma nova concepção nas relações internacionais ao possibilitar a


A) superação da soberania estatal.

B) defesa dos grupos vulneráveis.

C) redução da truculência belicista.

D) impunidade dos atos criminosos.

E) inibição dos choques civilizacionais.



Enem 2019 - Questão 59 (caderno amarelo)

A lenda diz que, em um belo dia ensolarado, Newton estava relaxando sob uma macieira. Pássaros gorjeavam em suas orelhas. Havia uma brisa gentil. Ele cochilou por alguns minutos. De repente, uma maçã caiu sobre a sua cabeça e ele acordou com um susto. Olhou para cima. “Com certeza um pássaro ou um esquilo derrubou a maçã da árvore”, supôs. Mas não havia pássaros ou esquilos na árvore por perto. Ele, então, pensou: “Apenas alguns minutos antes, a maçã estava pendurada na árvore. Nenhuma força externa fez ela cair. Deve haver alguma força subjacente que causa a queda das coisas para a terra”.

SILVA, C. C.; MARTINS, R. A. Estudos de história e filosofia das ciências. São Paulo: Livraria da Física, 2006 (adaptado).


Em contraponto a uma interpretação idealizada, o texto aponta para a seguinte dimensão fundamental da ciência moderna:


A) Falsificação de teses.

B) Negação da observação.

C) Proposição de hipóteses.

D) Contemplação da natureza.

E) Universalização de conclusões.



Enem 2019 - Questão 64 (caderno amarelo)

De fato, não é porque o homem pode usar a vontade livre para pecar que se deve supor que Deus a concedeu para isso. Há, portanto, uma razão pela qual Deus deu ao homem esta característica, pois sem ela não poderia viver e agir corretamente. Pode-se compreender, então, que ela foi concedida ao homem para esse fim, considerando-se que se um homem a usa para pecar, recairão sobre ele as punições divinas. Ora, isso seria injusto se a vontade livre tivesse sido dada ao homem não apenas para agir corretamente, mas também para pecar. Na verdade, por que deveria ser punido aquele que usasse sua vontade para o fim para o qual ela lhe foi dada?

AGOSTINHO. O livre-arbítrio. In: MARCONDES, D. Textos básicos de ética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.


Nesse texto, o filósofo cristão Agostinho de Hipona sustenta que a punição divina tem como fundamento o(a)


A) desvio da postura celibatária.

B) insuficiência da autonomia moral.

C) afastamento das ações de desapego.

D) distanciamento das práticas de sacrifício.

E) violação dos preceitos do Velho Testamento.



Enem 2019 - Questão 66 (caderno amarelo)

Em nenhuma outra época o corpo magro adquiriu um sentido de corpo ideal e esteve tão em evidência como nos dias atuais: esse corpo, nu ou vestido, exposto em diversas revistas femininas e masculinas, está na moda: é capa de revistas, matérias de jornais, manchetes publicitárias, e se transformou em sonho de consumo para milhares de pessoas. Partindo dessa concepção, o gordo passa a ter um corpo visivelmente sem comedimento, sem saúde, um corpo estigmatizado pelo desvio, o desvio pelo excesso. Entretanto, como afirma a escritora Marylin Wann, é perfeitamente possível ser gordo e saudável. Frequentemente os gordos adoecem não por causa da gordura, mas sim pelo estresse, pela opressão a que são submetidos.

VASCONCELOS, N. A.; SUDO, I.; SUDO, N. Um peso na alma: o corpo gordo e a mídia. Revista Mal-Estar e Subjetividade, n. 1, mar. 2004 (adaptado).


No texto, o tratamento predominante na mídia sobre a relação entre saúde e corpo recebe a seguinte crítica:


A) Difusão das estéticas antigas.

B) Exaltação das crendices populares.

C) Propagação das conclusões científicas.

D) Reiteração dos discursos hegemônicos.

E) Contestação dos estereótipos consolidados.



Enem 2019 - Questão 69 (caderno amarelo)


Fala-se aqui de uma arte criada nas ruas e para as ruas, marcadas antes de tudo pela vida cotidiana, seus conflitos e suas possibilidades, que poderiam envolver técnicas, agentes e temas que não fossem encontrados nas instituições mais tradicionais e formais.

VALVERDE, R. R. H. F. Os limites da inversão: a heterotopia do Beco do Batman. Boletim Goiano de Geografia (Online). Goiânia, v. 37, n. 2, maio/ago. 2017 (adaptado).


A manifestação artística expressa na imagem e apresentada no texto integra um movimento contemporâneo de


A) regulação das relações sociais.

B) apropriação dos espaços públicos.

C) padronização das culturas urbanas.

D) valorização dos formalismos estéticos.

E) revitalização dos patrimônios históricos.



Enem 2019 - Questão 70 (caderno amarelo)

TEXTO I


Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre crescentes: o céu estrelado sobre mim e a lei moral em mim.

KANT, I. Crítica da razão prática. Lisboa: Edições 70, s/d (adaptado).


TEXTO II


Duas coisas admiro: a dura lei cobrindo-me e o estrelado céu dentro de mim.

FONTELA, O. Kant (relido). In: Poesia completa. São Paulo: Hedra, 2015.


A releitura realizada pela poeta inverte as seguintes ideias centrais do pensamento kantiano:


A) Possibilidade da liberdade e obrigação da ação.

B) Aprioridade do juízo e importância da natureza.

C) Necessidade da boa vontade e crítica da metafísica.

D) Prescindibilidade do empírico e autoridade da razão.

E) Interioridade da norma e fenomenalidade do mundo.



Enem 2019 - Questão 81 (caderno amarelo)

Dizem que Humboldt, naturalista do século XIX, maravilhado pela geografia, flora e fauna da região sul-americana, via seus habitantes como se fossem mendigos sentados sobre um saco de ouro, referindo-se a suas incomensuráveis riquezas naturais não exploradas. De alguma maneira, o cientista ratificou nosso papel de exportadores de natureza no que seria o mundo depois da colonização ibérica: enxergou-nos como territórios condenados a aproveitar os recursos naturais existentes.

ACOSTA, A. Bem viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. São Paulo: Elefante, 2016 (adaptado).


A relação entre ser humano e natureza ressaltada no texto refletia a permanência da seguinte corrente filosófica:


A) Relativismo cognitivo.

B) Materialismo dialético.
C) Racionalismo cartesiano.

D) Pluralismo epistemológico.

E) Existencialismo fenomenológico.



Enem 2019 - Questão 84 (caderno amarelo)

Penso que não há um sujeito soberano, fundador, uma forma universal de sujeito que poderíamos encontrar em todos os lugares. Penso, pelo contrário, que o sujeito se constitui através das práticas de sujeição ou, de maneira mais autônoma, através de práticas de liberação, de liberdade, como na Antiguidade — a partir, obviamente, de um certo número de regras, de estilos, que podemos encontrar no meio cultural. 

FOUCAULT, M. Ditos e escritos V: ética, sexualidade, política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.


O texto aponta que a subjetivação se efetiva numa dimensão


A) legal, pautada em preceitos jurídicos.

B) racional, baseada em pressupostos lógicos.

C) contingencial, processada em interações sociais.

D) transcendental, efetivada em princípios religiosos.

E) essencial, fundamentada em parâmetros substancialistas.



Enem 2019 - Questão 85 (caderno amarelo)

TEXTO I


Os segredos da natureza se revelam mais sob a tortura dos experimentos do que no seu curso natural.

BACON, F. Novum Organum, 1620. In: HADOT, P. O véu de Ísis: ensaio sobre a história da ideia de natureza. São Paulo: Loyola, 2006.


TEXTO II


O ser humano, totalmente desintegrado do todo, não percebe mais as relações de equilíbrio da natureza. Age de forma totalmente desarmônica sobre o ambiente, causando grandes desequilíbrios ambientais.

GUIMARÃES, M. A dimensão ambiental na educação. Campinas: Papirus, 1995.


Os textos indicam uma relação da sociedade diante da natureza caracterizada pela


A) objetificação do espaço físico.

B) retomada do modelo criacionista.

C) recuperação do legado ancestral.

D) infalibilidade do método científico.

E) formação da cosmovisão holística.



Enem 2019 - Questão 86 (caderno amarelo)

Essa atmosfera de loucura e irrealidade, criada pela aparente ausência de propósitos, é a verdadeira cortina de ferro que esconde dos olhos do mundo todas as formas de campos de concentração. Vistos de fora, os campos e o que neles acontece só podem ser descritos com imagens extraterrenas, como se a vida fosse neles separada das finalidades deste mundo. Mais que o arame farpado, é a irrealidade dos detentos que ele confina que provoca uma crueldade tão incrível que termina levando à aceitação do extermínio como solução perfeitamente normal.

ARENDT, H. Origens do totalitarismo. São Paulo: Cia. das Letras, 1989 (adaptado).


A partir da análise da autora, no encontro das temporalidades históricas, evidencia-se uma crítica à naturalização do(a)


A) ideário nacional, que legitima as desigualdades sociais.

B) alienação ideológica, que justifica as ações individuais.

C) cosmologia religiosa, que sustenta as tradições hierárquicas.

D) segregação humana, que fundamenta os projetos biopolíticos.

E) enquadramento cultural, que favorece os comportamentos punitivos.



Enem 2019 - Questão 87 (caderno amarelo)

Para Maquiavel, quando um homem decide dizer a verdade pondo em risco a própria integridade física, tal resolução diz respeito apenas a sua pessoa. Mas se esse mesmo homem é um chefe de Estado, os critérios pessoais não são mais adequados para decidir sobre ações cujas consequências se tornam tão amplas, já que o prejuízo não será apenas individual, mas coletivo. Nesse caso, conforme as circunstâncias e os fins a serem atingidos, pode-se decidir que o melhor para o bem comum seja mentir.

ARANHA, M. L. Maquiavel: a lógica da força. São Paulo: Moderna, 2006 (adaptado).


O texto aponta uma inovação na teoria política na época moderna expressa na distinção entre


A) idealidade e efetividade da moral.

B) nulidade e preservabilidade da liberdade.

C) ilegalidade e legitimidade do governante.

D) verificabilidade e possibilidade da verdade.

E) objetividade e subjetividade do conhecimento.



Enem 2019 - Questão 89 (caderno amarelo)

TEXTO I


Considero apropriado deter-me algum tempo na contemplação deste Deus todo perfeito, ponderar totalmente à vontade seus maravilhosos atributos, considerar, admirar e adorar a incomparável beleza dessa imensa luz.

DESCARTES, R. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1980.


TEXTO II


Qual será a forma mais razoável de entender como é o mundo? Existirá alguma boa razão para acreditar que o mundo foi criado por uma divindade todo-poderosa? Não podemos dizer que a crença em Deus é “apenas” uma questão de fé.

RACHELS, J. Problemas da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.


Os textos abordam um questionamento da construção da modernidade que defende um modelo


A) centrado na razão humana.

B) baseado na explicação mitológica.

C) fundamentado na ordenação imanentista.

D) focado na legitimação contratualista.

E) configurado na percepção etnocêntrica.


GABARITO:

46 - C
47 - B
52 - B
59 - C
64 - B
66 - E
69 - B
70 - E
81 - C
84 - C
85 - A
86 - D
87 - A
89 - A

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