1) Não ignoro a opinião antiga e muito difundida de que
o que acontece no mundo é decidido por Deus e pelo acaso. Essa opinião é muito
aceita em nossos dias, devido às grandes transformações ocorridas, e que
ocorrem diariamente, as quais escapam à conjectura humana. Não obstante, para
não ignorar inteiramente o nosso livre-arbítrio, creio que se pode aceitar que
a sorte decida metade dos nossos atos, mas [o livre-arbítrio] nos permite o
controle sobre a outra metade.
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Brasília:
EdUnB, 1979 (adaptado).
a) valorizar a interferência divina nos acontecimentos
definidores do seu tempo.
b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos
políticos.
c) afirmar a confiança na razão autônoma
como fundamento da ação humana.
d) romper com a tradição que valorizava o passado como
fonte de aprendizagem.
e) redefinir a ação política com base na unidade entre
fé e razão.
2) TEXTO I
Experimentei algumas vezes que os sentidos eram
enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou
uma vez.
DESCARTES, R. Meditações Metafísicas.
São Paulo: Abril Cultural, 1979.
TEXTO II
Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma
ideia esteja sendo empregada sem nenhum significado, precisaremos apenas
indagar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se for impossível
atribuir-lhe qualquer impressão sensorial, isso servirá para confirmar nossa
suspeita.
HUME, D. Uma investigação sobre o
entendimento. São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado).
Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a
natureza do conhecimento humano. A comparação dos excertos permite assumir que
Descartes e Hume
a) defendem os sentidos como critério originário para
considerar um conhecimento legítimo.
b) entendem que é desnecessário suspeitar do
significado de uma ideia na reflexão filosófica e crítica.
c) são legítimos representantes do criticismo quanto à
gênese do conhecimento.
d) concordam que conhecimento humano é impossível em
relação às ideias e aos sentidos.
e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no
processo de obtenção do conhecimento.
3) É verdade que nas democracias o povo parece fazer o
que quer; mas a liberdade política não consiste nisso. Deve-se ter sempre
presente em mente o que é independência e o que é liberdade. A liberdade é o
direito de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão pudesse fazer tudo
o que elas proíbem, não teria mais liberdade, porque os outros também teriam
tal poder.
MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis.
São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997 (adaptado).
A característica de democracia ressaltada por
Monstesquieu diz respeito
a) ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao
tomar as decisões por si mesmo.
b) ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à
conformidade às leis.
c) à possibilidade de o cidadão participar no poder e,
nesse caso, livre da submissão às leis.
d) ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que é
proibido, desde que ciente das consequências.
e) ao direito do cidadão exercer sua vontade de acordo
com seus valores pessoais.
4) Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade,
da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de
seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado
dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas
na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem.
Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do
esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão
grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma
condição estranha, continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a
vida.
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é
esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado).
Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento,
fundamental para a compreensão do contexto filosófico da Modernidade.
Esclarecimento, no sentido empregado por Kant, representa
a) a reivindicação de autonomia da capacidade racional
como expressão da maioridade.
b) o exercício da racionalidade como pressuposto menor
diante das verdades eternas.
c) a imposição de verdades matemáticas, com caráter
objetivo, de forma heterônoma.
d) a compreensão de verdades religiosas que libertam o
homem da falta de entendimento.
e) a emancipação da subjetividade humana de ideologias
produzidas pela própria razão.
5) Na regulação de matérias culturalmente delicadas,
como, por exemplo, a linguagem oficial, os currículos da educação pública, o
status das Igrejas e das comunidades religiosas, as normas do direito penal
(por exemplo, quanto ao aborto), mas também em assuntos menos chamativos, como,
por exemplo, a posição da família e dos consórcios semelhantes ao matrimônio, a
aceitação de normas de segurança ou a delimitação das esferas pública e privada
— em tudo isso reflete-se amiúde apenas o autoentendimento ético-político de
uma cultura majoritária, dominante por motivos históricos. Por causa de tais
regras, implicitamente repressivas, mesmo dentro de uma comunidade republicana
que garanta formalmente a igualdade de direitos para todos, pode eclodir um
conflito cultural movido pelas minorias desprezadas contra a cultura da
maioria.
HABERMAS, J. A inclusão do outro:
estudos de teoria política. São Paulo: Loyola, 2002.
A reivindicação dos direitos culturais das minorias,
como exposto por Habermas, encontra amparo nas democracias contemporâneas, na
medida em que se alcança
a) a secessão, pela qual a minoria discriminada obteria
a igualdade de direitos na condição da sua concentração espacial, num tipo de
independência nacional.
b) a reunificação da sociedade que se encontra
fragmentada em grupos de diferentes comunidades étnicas, confissões religiosas
e formas de vida, em torno da coesão de uma cultura política nacional.
c) a coexistência das diferenças, considerando a
possibilidade de os discursos de autoentendimento se submeterem ao debate
público, cientes de que estarão vinculados à coerção do melhor argumento.
d) a autonomia dos indivíduos que, ao chegarem à vida
adulta, tenham condições de se libertar das tradições de suas origens em nome
da harmonia da política nacional.
e) o desaparecimento de quaisquer limitações, tais como
linguagem política ou distintas convenções de comportamento, para compor a
arena política a ser compartilhada.
6) Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides
era que o objeto de conhecimento é um objeto de razão e não de sensação, e era
preciso estabelecer uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou
material que privilegiasse o primeiro em detrimento do segundo. Lenta, mas
irresistivelmente, a Doutrina das Ideias formava-se em sua mente.
ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o
fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado).
O texto faz referência à relação entre razão e
sensação, um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de Platão (427 a .C.-346 a .C.). De acordo com o
texto, como Platão se situa diante dessa relação?
a) Estabelecendo um abismo intransponível entre as
duas.
b) Privilegiando os sentidos e subordinando
o conhecimento a eles.
c) Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e
sensação são inseparáveis.
d) Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento,
mas a sensação não.
e) Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação
é superior à razão.
7) TEXTO I
Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário
de tudo o que existe, existiu e existirá, e que outras coisas provêm de sua
descendência. Quando o ar se dilata, transforma-se em fogo, ao passo que os
ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar por feltragem e,
ainda mais condensadas, transformam-se em água. A água, quando mais condensada,
transforma-se em terra, e quando condensada ao máximo possível, transforma- se
em pedras.
BURNET, J. A aurora da filosofia
grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006 (adaptado).
TEXTO II
Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus,
como criador de todas as coisas, está no princípio do mundo e dos tempos. Quão
parcas de conteúdo se nos apresentam, em face desta concepção, as especulações
contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo se origina, ou de algum dos
quatro elementos, como ensinam os Jônios, ou dos átomos, como julga Demócrito.
Na verdade, dão a impressão de quererem ancorar o mundo numa teia de aranha.”
GILSON, E.; BOEHNER, P. História da
Filosofia Cristã. São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado).
Filósofos dos diversos tempos históricos
desenvolveram teses para explicar a origem do universo, a partir de uma
explicação racional. As teses de Anaxímenes, filósofo grego antigo, e de
Basílio, filósofo medieval, têm em comum na sua fundamentação teorias que
a) eram baseadas nas ciências da natureza.
b) refutavam as teorias de filósofos da religião.
c) tinham origem nos mitos das civilizações
antigas.
d) postulavam um princípio originário para o
mundo.
e) defendiam que Deus é o princípio de todas as
coisas.
Gabarito:
1) - c
2) - e
3) - b
4) - a
5) - c
6) - d
7) - d
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