A filosofia em Platão segue uma orientação ética: ensina o homem a desprezar os prazeres, as riquezas e as honras. A finalidade do homem em Platão é procurar transcender a realidade, procurar um bem superior em relação àquele que perdeu. Para se atingir este bem o homem necessita viver numa "cidade perfeita" – A República: a Callipolis. O homem mais feliz é o justo; bem mais do que o injusto num mar de delícias.
Não só em A República, como também na obra Fédon, Platão vai ensinar que para se conseguir a felicidade deve-se renunciar aos prazeres e as riquezas e dedicar-se à prática da virtude. O que vemos aqui é que em Platão os conceitos de felicidade e justiça caminham juntos. Podemos definir felicidade da seguinte maneira: seguir sua própria natureza; e a definição de justiça se dá da seguinte forma: fazer aquilo que é próprio de cada um. Este paralelo traçado entre os dois conceitos se concretiza dentro de A República ao estruturar sua cidade utópica.
A grande problemática com o qual Platão inicia A República é falando sobre a justiça, Sócrates (personagem principal do diálogo) realiza sua fala buscando uma definição para justiça ou para o justo. Qual dessas atitudes cabe melhor ao cidadão: o justo ou o injusto, que tem vida melhor? Como já falamos a conclusão que cabe melhor é a da vida ao justo; para chegar a esta conclusão, Glauco conta a lenda do Anel de Giges. Um homem através do poder do anel poderia adquirir quase tudo o que desejasse, mas não possui o sentimento de justiça e vive com desculpas inúteis tentando sustentar uma situação que não é própria dele.
A república platônica prevê um estado que não se trata de uma forma de governo aristocrata ou um governo eleito pela maioria. A forma de governo ideal seria aquela onde o poder é confiado aos mais inteligentes, aos filósofos, portanto temos uma sofocracia. Como Platão mesmo afirma "é preciso que os filósofos se tornem reis, ou que os reis se tornem filósofos". Aonde chegar com toda esta discussão. Se Platão afirma que a justiça é a base para todas as virtudes, o sábio é uma pessoa virtuosa, logo o sábio deve por excelência ser alguém justo. Voltando a questão das virtudes, vale lembrar que a alma humana possuí três virtudes: a temperança, a coragem e a sabedoria, sendo a justiça a base dessas três virtudes que seguindo a mesma linha constituirá três almas: a apetitiva, a irascível e racional que culmina numa distribuição harmônica de atividade na alma conforme a razão constituiria seguindo a virtude fundamental: a justiça. Este último argumento é o ponto central de ligação entre os conceitos de sabedoria e justiça.
O conceito de dar a cada um aquilo que lhe é próprio assume uma postura central dentro da organização da república platônica. Existe baseado nesta teoria um sistema educacional a fim de orientar cada um segundo suas aptidões. Os que possuem sensibilidade grosseira devem-se dedicar à agricultura, a produção, ao artesanato e ao comércio; cuidando da subsistência da cidade. Os que possuidores da coragem constituem a guarda, a defesa da cidade, estes são os guerreiros. A última classe aponta é dedicada para aqueles que estudam a filosofia, disciplina que eleva a alma, afim de atingir o conhecimento mais puro e é a fonte de toda a verdade, a estes caberiam a administração da cidade. Portanto dentro desta visão fica claro que a atitude do justo é de estar trabalhando dentro de suas aptidões. Para se formar um estado justo é necessário antes de tudo, que seus cidadãos sejam justos. Jamais poderia se conceber um estado justo com pessoas injustas ou seu contrário. A formação da população vai determinar como será o estado. Assim se entende toda a estrutura educacional do estado platônico – cada um deve ser direcionado segundo suas aptidões, desenvolvendo as virtudes que lhe são próprias e adequadas para aquilo que estão desenvolvimento.
Em Platão não encontramos uma definição fechada de justiça. Ele procura trabalhar o conceito de justiça envolvendo todo o comportamento do ser humano, portanto podemos dizer que o a definição de justiça em Platão assume um caráter antropológico. Ele analisa como seria o comportamento do homem justo e do homem injusto para se chegar a descrever suas virtudes, e a tipologia das almas, afim de determinar uma postura ética que direciona o homem para a conquista da sua felicidade dentro de suas aptidões constituindo por fim um estado justo e perfeito – A República.
Por Albio Fabian Melchioretto
REFERÊNCIAPLATÃO, A República. Bauru: EDIPRO, 1994.
__________. Fedon. Col. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 2002.
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